terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Silêncio
O relógio marca duas horas da madrugada. O silencio parece dizer mais do que as palavras. Pense só: nós dois sentados, um em cada ponta da cama, calados completamente. Então, subitamente, um de nós olha pelo canto. Os dois ao mesmo tempo. Desvio de olhar. Isto não é nem um pouco desconfortável. Estamos perfeitamente intactos, fora o fato do corpo trêmulo; os lábios ressecados, os olhos brilhando e as bochechas rosadas. Dois malucos para se entregarem. Os corpos atraindo-se como dois imãs de pólos opostos; Os lábios impotentes, secos desejam beijar; Os olhos implorando que o azul do dele misturem com o meu, esverdeado. A pele a espera do toque sutil. Por fora, a harmonia pesa. Por dentro, milhões de guerras estouram. O sangue quente pulsando direto para o coração. Ele escuta o arfar... Pega na minha mão, chega perto. Parece que estávamos a milhas distantes um do outro; Mistura de perfumes, o meu e o dele se entrelaçam no ar. A imagem fica tão linda que vira fotografia na minha mente. Cada vez mais difícil de respirar, de viver. Suspiros. Ele chega bem mais perto; Ele quer dizer alguma coisa, mas não diz nada. As cabeças e os pés se roçam. Eu sinceramente não sei se ele pode escutar o turbilhão em mim, não sei se eu quero que ele escute. Creio que agora ele não pode ouvir. Eu também não... Perdi a audição. O olfato sensibiliza. Ou não teria outra explicação para o cheiro dele, que me invade. Impregnou em mim. Ele impregna em mim. Eu me pergunto se eu causo o mesmo efeito nele. Ele desliza sua cabeça na direção do meu rosto. Ficamos frente a frente. Devo estar corada. Negado. Ele afasta a cabeça, deixando apenas vestígios do seu cheiro. Eu o quero mais do que deveria. Ataco gentilmente seu pescoço. Um riso – que mais parece um sussurro. O cheiro de novo. Ele me permite. Os olhos se encontram. As pupilas dilatadas. As pálpebras fecham, devagar, até acobertarem completamente o olhar. Os lábios encostam. Êxtase total. Somos duas estátuas. Ficaria assim para sempre. É quase real. QUASE. Tento dormir, mas o leito já não é suficiente para quem estava literalmente nas nuvens. Aquela cena me atormenta. Um suspiro. Boa noite, tenha bons sonhos. “Você me capta”, é só o que eu consigo dizer em voz alta. Silêncio. E eu volto a dormir.
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"A imagem fica tão linda que vira fotografia na minha mente."
ResponderExcluirQue lindo, minha florzinha de Lótus.
eu simplesmente me apaixonei por esse texto Má
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