Era um quarto. Paredes descascadas, móveis de madeira escura, pia de mármore. Era pequeno, mal cheiroso e úmido. Mas era um quarto. Era lá que ele morava. A cama era coberta por um lençol velho, jamais trocado. A mesinha de centro era redonda, e mais dois banquinhos. Ele não precisaria de mais que dois banquinhos. Aquele pequeno quarto, transformava-se em um antro pecaminoso ao cair da escuridão da noite.
Todas as noites de várzea eram iguais. Cada dia uma puta diferente, de um mesmo tipo. Altas, mulatas, lábios carnudos, corpo carnudo... Mas hoje era diferente, era lua cheia, e o homem gostaria de sentir uma pele branca novamente. Depois de tantos anos.
A moça tinha mais de vinte anos a menos que ele. Mas o desejava como todas as outras o desejavam. Era um homem alto, forte, cabelos lisos e grisalhos. E pagava muito bem. Mas tinha que ser sempre naquele mesmo quarto.
Chegou a moça, meio recatada, mas sabia o que aconteceria. Todas já haviam contado.
Ele ficou paralisado diante daquele anjo. Era linda. A lua estava bem à sua janela, a sua luz refletia naquela pele branca. Seus cabelos eram negros, desciam até os quadris. Não conseguia ver os seus olhos.
Por um minuto, chegou a imaginar que aquela seria sua primeira vez. Mas não era, ela era uma puta como todas as outras putas.
Era um anjo... Ou o demônio vestido de anjo.
Enquanto ela tirava o vestido, ele sentou-se à mesa e bebericou seu vinho barato. Ela deitou-se à cama, e encolheu-se como um feto. Parecia que ia chorar, mas era indecifrável.
Cambaleou para a cama, aos pés dela. Beijou seu corpo inteiro. A medida que ia subindo, acariciava seus macios fios de cabelo. Sentia a penugem clara de suas coxas com a outra mão. Até que as separou. Colocou a mão em seus quadris e a levou junto dele. Prendeu-se em suas pernas. E depois encaixou-se. Ele não desvirtuava as virgens, mas aquela, definitivamente era uma virgem. Sentiu seu sangue quente em suas pernas, que também manchava o lençol. Antes, o que eram os suspiros, agora eram suaves gemidos. De dor, misturados com prazer.
O homem sentiu um aperto no peito. O peso daquele homem enorme estava todo na moça que virara mulher. Ela sentiu aquele homem morto dentro dela e sentiu repugno. O empurrou para fora de seu corpo, e sibilou raivosa:
- Deu-te a vida a velar um passado também?
Assim como ele tirara sua adolescência, ela lhe tirou a velhice. Dando-lhe a morte em troca.
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